domingo, 29 de maio de 2016

Entrevistas com moradores antigos do bairro do Pau Miúdo

Dona Valdineia Santana - 70 anos
-Mora no bairro há mais de 60 anos, pois veio para cá ainda criança com a sua família. Os pais vieram de alagoinhas, moraram inicialmente no bairro do Pero Vaz e mais tarde se mudaram para o Pau Miúdo. A mãe não trabalhava e o pai trabalhava na feira.
Tem poucas lembranças de como era o bairro. Lembra que era tudo muito calmo, com algumas casas e pouco comércio; tem lembrança também de muitas escolas. Lembra que toda vez que descia uma ladeira, avistava um cemitério e sempre perguntava a sua mãe o que era aquilo. Nesse bairro existia também muita área de terreno baldio, com muito mato. Não lembra de ter ouvido falar na estrada das boiadas.

Seu Antonio Lima - 67 anos
-Seu Antônio mora no bairro há mais de 40 anos, e quando chegou no Pau Miúdo, o bairro era muito calmo, tinha mais residência do que casa comercial. Ele não lembra, mais ouviu falar que essa área fazia parte de uma fazenda, e confirma isso com a grande área de vegetação nativa, que ainda existe atrás do complexo de saúde César de Araújo.
A população era menor e mais calma, existiam poucas linhas de ônibus, inicialmente só Barroquinha e Terminal da França. A linha da Lapa e Pituba são mais recentes. Hoje em dia por causa do desemprego são muitos ambulantes pela rua, que vendem de tudo para sobrevivência.

Dona Doralice Pereira - 72 anos
Sempre morou no bairro, que era muito diferente do que é hoje. Brincava na rua com as vizinhas, existiam muitas áreas com vegetação. Ajudava a sua mãe que era lavadeira, a lavar roupa em uma lavanderia comunitária que existia no bairro.
As casas comerciais eram menores e bem diferentes das de hoje. Não existia supermercado no bairro, só o Paes Mendonça na Baixa do Sapateiro. Nos armazéns ou vendas era onde a gente comprava os produtos "secos e molhados" (não perecíveis e perecíveis). As carnes eram vendidas em pequenos açougues. As padarias que existiam no bairro não eram tão diversificadas e usavam forno a lenha. Ela lembra de algumas vezes que foi ao centro da cidade e andou de bonde até o bairro da liberdade, pois o bonde não passava pelo bairro do Pau Miúdo.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

A história do Bairro do Pau Miúdo


A cidade de Salvador foi fundada em 1549, e pelo menos três fatores contribuíram para a sua instalação: sua localização geográfica, na parte litorânea e central do Brasil; debruçava-se sobre uma grande baía aberta de águas límpidas, que favoreceu a instalação de um porto natural com grande aptidão para o comércio nacional e internacional; e estava assentada sobre uma parte elevada, com boa visão para o mar, o que lhe conferia uma grande vantagem em termos militares e administrativos. 
Ainda nesse período, Salvador desenvolveu-se como um grande centro comercial e econômico, pois através das navegações, os produtos chegavam a Salvador vindos da Ásia e daqui seguiam para a Europa. Essa rota de navegação a vela, chamada Carreira da Índia, foi muito importante e durou mais de três seculos, transportando  produtos e especiarias da Índia para serem comercializados na Europa. Esta rota foi estabelecida em função das correntes marítimas que atuavam no Atlântico norte, e pelo regime de ventos que facilitavam a chegada de Barcos e caravelas, vindo de Lisboa, aos portos de Goa e Cochim na Índia.

Como a cidade já nasceu com a função administrativa e comercial sua população aumentou rapidamente e como não havia nela quem plantasse ou cultivasse os produtos primários,  surge nos arredores da cidade, algumas roças e fazendas que tinham a função de fornecer esses produtos.
A cidade continuava se expandindo e atraindo um grande contingente populacional das cidades que estavam no entorno da Baía de Todos os Santos. Daí também chegavam alguns produtos para o consumo da população.
Em relação a carne bovina, foi necessário trazer as boiadas de terras longínquas que foram conquistadas e mantidas pela Casa da Torre, enfrentando todo tipo de dificuldade. O gado chegava a Vila de Feira de Santana, onde era selecionado, contado e daí seguia por mais alguns dias ou semanas, pela Estrada das Boiadas, até chegar em Salvador.

Partindo da Vila de Feira de Santana, o gado passava pela vila de cachoeira e Santo Amaro, contornando a Baía de Todos os Santos, até entrar em Salvador pela Planície do Cabrito e Pirajá em direção ao tanque do Engenho da Conceição e daí em direção a fortaleza do Barbalho até findar nas hortas de São Bento, antigo matadouro.

A expansão de Salvador continuou por um longo período. Muitas pessoas que moravam nas cidades do recôncavo e adjacências  migraram para cá, dando origem a novos bairros que na época chamavam-se freguesias. Geralmente essas freguesias estavam ligadas a alguma atividade econômica, direta ou indiretamente, que polarizava ou atraia a população, sempre em busca de melhores condições de vida.
A origem e povoamento do bairro do Pau Miúdo está ligado a alguns fatos: o bairro foi assentado em uma região ligada a área rural da cidade de Salvador, próxima a fazenda e engenho Santo Antônio do Queimado; a estrada das boiadas, que passava próximo a área que hoje corresponde ao bairro, também influenciou no surgimento e povoamento do mesmo com a instalação de pequenos comércios e serviços de apoio aos viajantes que cruzavam dia após dia essa estrada; Outro fato que ajudou no povoamento foi a instalação do terreiro de candomblé Casa de Oxumaré, que no inicio do século XX instalou-se em uma localidade chamada Cruz do Cosme, que fica próximo ao bairro do Pau Miúdo. Essa casa tornou-se mais tarde uma instituição de resistência do povo negro da Bahia, que nesse período estava distribuído por todo o bairro da liberdade, Pero vaz e adjacências.
Mais recentemente podemos atribuir a expansão da população de Salvador, à construção de ferrovias que chegaram até as cidades do recôncavo e principalmente a construção da rodovia BR-324 que corta todo o estado da Bahia passando pela cidade de Salvador. Essa rodovia era o que no século XVIII chamava-se de estrada das boiadas.

Não podemos deixar de citar a grande atração exercida pelo polo petroquímico de Camaçari que pela proximidade de Salvador, atraiu grande contingente populacional para essas cidades.
Segundo os historiadores o nome de um bairro ou de uma rua tem as mais diversas origens, podendo ser a partir de um fato histórico relevante ou de um mero acontecimento relevante.
No caso do bairro Pau Miúdo, esse nome advêm do referencial histórico popular: por volta dos anos 20, onde hoje está assentado o bairro da Cidade Nova, existia uma localidade chamada Cidade de Palha, em razão das moradas serem de palha. Com o passar dos tempos, as pessoas começaram a substituir suas casas de palha por casas de taipa. Para conseguir a madeira diversas pessoas passavam o dia subindo e descendo a ladeira de quintas com destino ao local onde existia tal madeira, onde encontram-se hoje os hospitais Otávio Mangabeira e Ernesto Simões. Logo ao abordarmos, naquela época, uma pessoa com um feixe de paus miúdos na cabeça, perguntando-lhe de onde viera tínhamos   o registro: venho do Pau Miúdo.
Uma outra versão conta que algumas lavadeiras subiam as ladeiras para pegar paus miúdos para ferver as roupas. daí o nome Pau Miúdo. 


Referências:

Dorea, Luiz Eduardo. História de Salvador nos Nomes das Ruas, Salvador, Edufba, 2006.

Gama, Hugo; Nascimento, Jaime. A Urbanização de Salvador em Três Tempos - Colônia, Império, República. Salvador, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 2011.

https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/11232/1/Dissertacao%20Rodrigo%20Lopesseg.pdf

https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ufba/587/3/Geografia%20de%20Salvador%20.pdf